Dia 12 de março de 2020. Festa do CCRJ, na Bricks House, do bairro do Flamengo. A última reunião do mercado publicitário carioca desde então, já que, no dia seguinte, a notícia de que a “gripezinha” era mesmo uma pandemia mundial trancaria todo mundo em casa e revolucionaria as operações das agências, implantando o home-office.
Adilson Xavier, que esteve presente no evento, declara: “Aquela festa do CCRJ foi uma espécie de Baile da Ilha Fiscal. Depois dela, tudo mudou”.
Este colunista se lembra que, antecipando o que acontecia lá fora, fez questão de não dar a mão a ninguém, só cumprimentando os amigos com o cotovelo. As pessoas riam, achavam estranho. O fotógrafo Al Hamdan não se esqueceu: “Lembro bem de você cumprimentando com o cotovelo. Mas eu ainda não sabia que era grave e lhe tasquei um abração. Distribui abraços e beijos talvez já sentindo que era despedida”. Hamdan, um ano depois, admite: “Estou morrendo de saudades de não me aglomerar. Quero abraçar e beijar de novo”.
Adilson, claro, lamenta o que aconteceu a partir dali: “2020, o ano-pesadelo, tratou de separar todo mundo. Overdose de individualismo. A galera desaglomerou, os amigos se entocaram, a vida ficou tão fora do tom que nosso padrão de exigência pra ser feliz desabou. Hoje, qualquer encontro individual pra uma refeiçãozinha tem o tamanho daquela festa. Hoje, estar vivo pra curtir boas lembranças já merece uma festa”.
Cristina Amorim, que recebeu de Adilson, naquela noite, seu diploma do Hall da Fama do CCRJ, guarda a festa como uma bela lembrança. “Foi uma festa adorável. Já estávamos, eu acreditava, no fundo do poço mas a alegria de encontrar e festejar com tantos amigos me fez esquecer por um momento o poço miserável. Eu não imaginava ainda a locomotiva desgovernada que viria pela frente. E cá estamos, atropelados e inacreditavelmente pior”.
Parece mesmo tanto tempo que Toninho Lima lembra com saudades: “Juro, eu estava lá. Até vislumbrei as figuras queridas dos homenageados, Al Hamdan e Cristina Amorim. Dois queridos que a publicidade trouxe para a minha vida. Será? Ou sonhei? Talvez tenha sonhado, pois foi de relance que vi, por através de uma fresta, o Claudio Gatão, que quase nunca aparece. Mas esteve lá, eu vi! Ou não vi? Faz um ano, era a festa do começo de um projeto bacana. Era a estreia do Daniel Japa Brito e de um CCRJ novinho em folha. Pano rápido. Acho que vi Bolsonaro de máscara. É, com certeza, devaneio”.
Pedro Portugal, que estava passando naquela noite a faixa de presidente do CCRJ para Daniel “Japa” Brito, ainda brinca de que “se alguém, nesse planeta, foi capaz de brindar o início da pandemia, mesmo que sem querer, esse alguém tinha que ser um publicitário carioca”.
O criativo, aliás, viveu em 2020 a perda de seu pai pela Covid-19 e ficou marcado pelo ano: “De lá pra cá, perdemos muito. Eu, particularmente, perdi uma das pessoas que mais amava no mundo. Porém, ainda bem que estamos nessa cidade, onde aprendemos a sorrir e fazer piadas mesmo em meio ao caos.”
Como encerrou Pedro Portugal, “talvez seja isso que nos mantém vivos. Talvez seja isso que mantém esse mercado vivo”.
Para a Janela, o atual presidente do CCRJ, Daniel Brito, mandou especialmente este texto:
Tic-tac |
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